Como a Inteligência Artificial está minando a autonomia da juventude
- 10/06/2025

E, por se multiplicar a iniquidade, o amor se esfriará de quase todos. (Mateus 24:12)
O que iniquidade tem a ver com IA? Talvez você pergunte enfaticamente. De fato, há uma relação profunda e alarmante:
O Esfriamento do Amor = O Esfriamento das Relações Humanas
A IA está substituindo interações humanas genuínas por respostas automatizadas. Jovens que antes debatiam ideias, buscavam conselhos em familiares ou amigos, agora delegam suas dúvidas existenciais a ferramentas que simulam o ser humano, mas não são. Ferramentas como ChatGPT, Copilot, DeepSeek etc., são chatbots (programas de computador) de inteligência artificial, projetados para simular conversas de linguagem natural, que permite responder perguntas, gerar textos e até mesmos códigos.
Como ferramenta técnica é maravilhosa, para se otimizar o tempo e eficiência operacional, entretanto em termos de relacionamento humano, coloca o jovem e os adultos em isolamento social sistemático, tornando o que o rei Salomão disse uma realidade alarmante (Provérbios 18:1): O solitário busca o seu próprio interesse e se levanta contra a verdadeira sabedoria. Isto conduz a:
- Relacionamentos superficiais (por falta de diálogo profundo. Exemplo: falta de comunhão na igreja, ou na família).
- Diminuição da empatia (já que máquinas não sentem).
- Individualismo digital (cada um isolado em sua bolha algorítmica).
O "amor esfriar" pode ser interpretado como a perda da conexão humana autêntica, substituída por conveniência artificial.
Multiplicação da Iniquidade = O Excesso de Informação Vazia
A "iniquidade" (mal, corrupção moral) pode ser associada ao excesso de informação sem sabedoria. Iniquidade (no grego: “anomia” = ausência de lei), por isto que o uso tolo (ou desgovernado) da IA pode levar à anomia moral: agir sem parâmetros de Deus. Tolo é o contrário de sábio. Tolice é saber o que se tem que fazer e não se faz. Sabedoria é saber o que tem que fazer, e fazer. Limites são importantes na vida humana. Existem para nos salvar de nós mesmos, os excessos dos nossos desejos nos conduzem a perda de Deus, do bom senso e de nós mesmos.
Vivemos na era do big data, onde:
- Dados são abundantes, mas o discernimento é raro.
- Jovens confundem acesso rápido a respostas com verdadeiro conhecimento.
- A IA gera conteúdo infinito, mas não ensina valores éticos ou propósito.
Assim como o versículo fala de um crescimento do mal, podemos ver um crescimento do vazio intelectual – muita tecnologia, pouca maturidade. Por isto que a Bíblia ainda fala:
“Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem, mal…” (Isaías 5:20).
“Haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina…” (2 Timóteo 4:3-4).
Perda da Autonomia = Terceirização da Consciência
Quando o jovem para de tomar decisões por si mesmo e passa a depender da IA, ele:
- Enfraquece seu critério moral (já que a IA não tem ética inata).
- Perde a capacidade de lidar com incertezas (a vida não tem respostas prontas).
- Desenvolve uma mentalidade passiva ("o algoritmo decide por mim").
Isso lembra o "esfriamento" espiritual – uma geração que, em vez de buscar Deus, sabedoria ou autoconhecimento, busca atalhos digitais.
Jovens Não Decidem Nada Sem Consultar o ChatGPT...
A declaração de Sam Altman, CEO da OpenAI, de que "jovens já não tomam decisões de vida sem perguntar ao ChatGPT" acendeu um alerta entre especialistas. Filósofos, psicólogos, líderes religiosos e educadores temem que a dependência excessiva da inteligência artificial esteja levando a um "emburrecimento coletivo", corroendo a capacidade crítica e a identidade das próximas gerações.
"Estamos criando uma geração que terceiriza suas decisões existenciais para algoritmos", alerta o filósofo Mário Sérgio Cortella. Para ele, a IA pode ser útil, mas quando substitui o processo de reflexão individual, rouba a maturidade emocional e intelectual.
A psicóloga Vera Iaconelli vai além: "Se antes tínhamos a angústia da escolha, hoje há jovens que nem sequer experimentam esse conflito – basta perguntar à IA. Isso impede o desenvolvimento da resiliência e do autoconhecimento."
Sem intimidade não há sociedade. Deus nos criou para vínculos: que surgem com o aprofundamento mútuo, com acertos e erros, com alegrias e tristezas, com sucessos e frustrações. Com amizades e perdas de amizades.
Bíblia diz em Provérbios 17:7, Assim como o ferro afia o ferro, o homem afia o seu companheiro. A insensibilidade social, impacta nos relacionamentos horizontais, mas ainda mais, no nosso relacionamento vertical com Deus, porque impacta a vida devocional, oração, leitura bíblica e comunhão com Deus e, consequentemente, com os outros.
O uso excessivo da IA está também minando o tempo de oração, a dependência do Espírito Santo, e a sensibilidade à voz de Deus. A Bíblia diz: Buscai ao Senhor enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto (Isaías 55:6).
A maturidade espiritual também está ameaçada?
Abraham Skorka adverte: Quando o homem busca respostas prontas em máquinas, ele se afasta da sabedoria divina e do diálogo interior.
Quando cito que ‘O amor de muitos esfriará’ (Mateus 24:12), não será por falta de informação, mas por excesso de conhecimento vão – como o de um ChatGPT que não tem alma (assim como o bebê reborn ou qualquer utensílio usado para trazer satisfação humana). Da Ansiedade de informação, como disse Richard Wurhman, e, deveras, da apostasia (vagarosamente se esfriar/se afastar de Deus).
De fato, Eclesiastes 1:18 diz: Porque na muita sabedoria há muito enfado; e o que aumenta o conhecimento, aumenta a dor. Será que o conhecimento artificial, sem discernimento, está nos levando a uma era de sabedoria (ou espiritualidade) vazia?
A Bíblia e o Perigo da Falsa Sabedoria
Outros textos bíblicos reforçam essa ideia:
O conhecimento incha, mas o amor edifica (1 Coríntios 8:1). → A IA dá conhecimento, mas não constrói caráter.
Teme a Deus e guarda os seus mandamentos, porque isto é o dever de todo homem (Eclesiastes 12:13). → A IA não teme a Deus; o homem está transferindo sua responsabilidade moral para máquinas.
Como Vencer a Dependência Digital?
Em vez de apenas “questionar aleatoriamente”, ou "escrever à mão" ou "exercitar o tédio criativo", como alguns especialistas orientam, exercite:
- Meditação diária na Palavra (Salmo 1:2).
- Desconexão intencional para oração (Lucas 5:16).
- Mentoria espiritual, i.e., discipulado com cristãos maduros (2 Timóteo 2:2).
O problema não é a ferramenta, mas o usuário. A tecnologia é uma benção nas mãos sábias, porém nas mãos do tolo, se torna um oceano de ensimesmamento.
A IA é uma ferramenta neutra — pode ser usada tanto para o bem (evangelismo, ensino bíblico) quanto para o mal. A inteligência artificial é uma ferramenta poderosa, mas não pode substituir a jornada humana de errar, refletir e crescer. Se a próxima geração perder a capacidade de se posicionar por si mesma, estaremos diante de uma crise não só cognitiva, mas existencial. Como diz o provérbio: Ensina a pescar, não dê o peixe. Só que, no século XXI, o desafio é: Ensina a pensar, não deixe o ChatGPT responder por você.
Como Paulo usava as estradas romanas e cartas (tecnologia de sua época), hoje podemos usar IA com sabedoria para pregar, ensinar e evangelizar (Mateus 28:19-20 online).
Se o amor esfria quando o mal se multiplica, então a dependência excessiva da IA pode ser um sintoma dessa decadência – não por ser "má" em si mesma, mas por nos afastar da essência humana:
- Pensar por si mesmo.
- Amar com profundidade.
- Buscar sabedoria, não apenas informação.
O desafio, então, é usar a tecnologia sem ser dominado por ela, para que o "esfriamento" dito por Jesus, em Mateus 24:12, não se cumpra na vida da sua família, amigos e conhecidos. É hora de entender que Jesus está voltando! Prepara-te, para encontrares com o teu Deus (Amós 4:12). Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor (Oséias 6:3).
A IA não é o anticristo, mas é uma ferramenta que tem sido usada para distração espiritual e esfriamento espiritual e distanciamento social. O alerta de Jesus em Mateus 24:12 é sobre o que acontece quando deixamos o amor e a verdade serem substituídos pela frieza da conveniência e da falsa autonomia.
Que a juventude cristã aprenda a usar a tecnologia como servo, nunca como senhor. Que, em vez de perguntar primeiro à IA, pergunte ao Senhor: Senhor, o que queres que eu faça? (Atos 9:6).
A verdadeira sabedoria começa com o temor do Senhor (Provérbios 9:10). IA pode até responder rápido, mas só Deus transforma o coração.
É tempo de preparar o caminho do Senhor — inclusive no mundo digital.
Maranata ora, vem Senhor Jesus!
Fernando Moreira (@prfernandomor) é pastor na Igreja Batista do Povo em Americana - SP. Bacharel em Ciência da Computação e Teologia. Mestrado em Ciência da Computação. MBA em Vendas, Marketing e Geração de Valor. Doutorado em Teologia. Membro da Academia de Letras, Artes e Cultura do Brasil. Mentor de alunos de MBA, executivo de tecnologia, orientador de carreiras executivas, conselheiro administrativo, palestrante, conferencista e autor de vários livros.
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